As
igrejas evangélicas históricas do Brasil, em virtude da realização das eleições
gerais em 5 de outubro (1º turno) e em 26 de outubro (2º turno) e considerando o
papel de seus membros no exercício pleno da cidadania, bem como o
comprometimento dessas igrejas com o Estado democrático de direito e o seu
reconhecimento e apoio às instituições democráticas, expressas nos Poderes
constituídos da República, vêm junto a seus membros e à sociedade brasileira em
geral fazer o seguinte
PRONUNCIAMENTO
1.
Nenhum
sistema ideológico de interpretação da realidade social, inclusive em termos
políticos, pode ser aceito como infalível ou final nem é capaz de interpretar
os conceitos bíblicos da história e do reino de Deus, no entanto, cremos que
Deus, Senhor da história, realiza a Sua vontade de várias maneiras, inclusive
por meio da ação política;
2.
As
eleições são parte do processo de busca permanente de equidade social, de
garantia dos direitos fundamentais à pessoa humana, de vivência ética e
comunitária, às quais estimulamos o protagonismo de homens e mulheres cristãos,
comprometidos com os valores do Evangelho de Cristo;
3.
A
democracia é um valor universal, bem como o governo representativo dela
decorrente e a sociedade democrática pressupõe pluralidade de ideias e a livre
expressão do pensamento político, alternância do poder, em forma republicana de
participação popular;
4.
Os chamados mensalões, julgados e
ainda não julgados pelo STF, expuseram, na esfera partidária, a dualidade
de forças políticas de matizes ideológicas distintas, que se digladiam
eleitoralmente, visando o acesso ao poder, mas revelam a fragilidade dos
partidos majoritários na elaboração de suas amplas alianças partidárias que, em
muitos casos, não são de natureza político-ideológica, mas se constituem em
verdadeiro fisiologismo;
5.
O
sistema de financiamento de campanhas admitido no Brasil é perverso, indutor e
retroalimentador da corrupção e termina por eleger, majoritariamente,
verdadeiros representantes do poder econômico e não dos interesses da maioria
da população;
6.
O
atual sistema político reflete partidos políticos que não têm identidade e
realizam alianças que não fidelizam ideais, mas denunciam conveniências e interesses
corporativistas. De igual modo, o modelo presidencialista de coalizão
compromete a ética e a democracia cujos pressupostos são a fiscalização e a
alternância no poder;
7.
Candidatos/as
frutos de estratégias de marketing e alianças comprometedoras não são dignos de
voto;
8.
Ninguém deve receber voto simplesmente por expressar a fé
evangélica, antes, deve-se recordar que “a fé, se não tiver obras, por si só
estará morta” (Tg 2.1). Entretanto candidatos e partidos que defendem em
seus programas posições que se oponham a valores cristãos tais como justiça e
paz; integridade da vida e da criação; preservação da família; honestidade e
respeito ao bem público não podem merecer nosso voto.
9.
O
processo político não se esgota com as eleições e os valores da cidadania,
marcados por gestões públicas transparentes e probas, têm correspondência na
vida de integridade cotidiana de cada cidadão e cidadã brasileira, na
participação, nas reivindicações e na projeção de ações que visem o bem comum.
10.
Repudiamos o “voto de cabresto”; o chamado “curral
eleitoral”, bem como a troca do voto por favores sejam pessoais ou coletivos,
exortando seus integrantes a exercerem o direito do voto de maneira consciente
e bem fundamentado cientes da delegação de poder que o sufrágio nas urnas
confere aos eleitos.
Conclamamos
o povo de Deus que se reúne em nossas igrejas à participação na escolha das
futuras lideranças: Presidente da República, governadores, senadores, deputados
federais e estaduais e, para isso, também o convocamos à oração e à reflexão,
que possam nos orientar para que nossas escolhas se traduzam no bem comum de
todos os brasileiros e brasileiras.